Depois de alguns dias de férias em Natal, o técnico Bernardinho já está prestes a voltar às atividades no comando da seleção brasileira masculina que disputará o Mundial de Vôlei, na Itália, marcado para começar no dia 24 de setembro. E está como sempre, com sede de conquistas. Na série do SporTV para entender os motivos que levaram o vôlei brasileiro a ser tão vitorioso nos últimos anos, o treinador de todas as conquistas é o primeiro a ser entrevistado e quando perguntando sobre o que ainda falta fazer, responde:
- Eu quero melhorar como treinador e conquistar o próximo campeonato.
Sobre o seu tão comentado temperamento explosivo, Bernardinho responde:
- Tem momentos que eu o controlo e outros em que eu acho que ele me controla. Mas de uma forma geral você convive com ele e as duas coisas se harmonizam e elas te levam de alguma forma. Meu temperamento de buscar o melhor é uma ideia muito emblemática: seja o melhor que você pode ser.
E qual é afinal o segredo do vôlei para ter se transformado em um esporte no Brasil tão vitorioso?
- Se olharmos, o voleibol é um esporte que vem se organizando, se profissionalizando, veio criando a base para um crescimento sustentável. E começou a gerar os resultados. Em 84 (a medalha de prata olímpica em los Angeles), oito anos depois a medalha de ouro em 92 (em Barcelona), e depois de um intervalo, em 2000 aquilo se consolida. Depois de uma conquista como essa agora, do enea (na Liga Mundial), a oitava em dez anos, do nono título do Brasil, a minha preocupação agora é enorme pela expectativa que se criou em relação ao Mundial. Então, é a tentativa do tri mundial, terceiro seguido, nós sabemos que vai ser uma tarefa, uma caminhada ainda mais difícil que a da Liga Mundial.
A questão é essa: nós não podemos nos afastar da nossa essência."BernardinhoBernardinho acrescenta o que deve ser feito para o tri ser conquistado:
- O foco na ação, no momento, o time junto, mais do que nunca. Nós não vamos perder não. Não vamos entregar para os caras, isso é certo.
O treinador divide o sucesso com os jogadores:
- Quando eu olho para trás, no caso da seleção masculina na história recente, desses últimos dez anos, é uma geração que trouxe muitas coisas interessantes como exemplo, fonte de motivação para as pessoas. Trabalho, time, houve brigas, acertos, sempre está a busca por um time mais coeso, de uma nova conquista, de lutar pelos objetivos, então isso é um pouco o legado que esse grupo de pessoas tem deixado. Porque no esporte você ganha e perde, isso é natural, costumo dizer que só não perde quem não joga.
Bernardinho ainda comenta sobre o basquete e o futebol, dois esportes de que gosta muito. E toca de leve nas divergências que acabou enfrentando fora de quadra (a mais famosa foi com o levantador Ricardinho) por causa da sua obsessão por treinamentos e a consequente melhora no desempenho nos jogos ao analisar como a seleção masculina de vôlei conseguiu superar suas adversidades.
- Acho que em função do acúmulo de situações como essa ao longo do tempo, o que acontece é um fato inverso. As equipes do outro lado começam a se questionar, "será que vamos ganhar desses caras agora?" Começa a bater um certo temor da vitória e é quando a dúvida se instala que a gente consegue buscar o negócio. A grande questão é essa. As seduções e as armadilhas começam a se instaurar ao seu lado. Ganha, ganha, ganha e vem um maluco de novo, esse ser quase psicopata, obsessivo com a questão do treinamento, treinamento. "Lá vem ele de novo com o mantra, vamos treinar, vamos treinar" etc e tal. "Será que é necessário?" Aí o cara fala; vamos treinar mais e se ganha de novo. Vai mais um ano e ele vem de novo com a mesma filosofia, com o mesmo mantra praticamente e a gente ganha de novo. "Talvez não seja tão necessário". Você começa a duvidar se aquilo é tão essencial e importante. Então nós tivemos (problemas) também fora da quadra em função de várias situações dessa natureza. Mas a questão é essa: nós não podemos nos afastar da nossa essência.
Para terminar, Bernardinho revela que já pensou em trabalhar no Japão, por exemplo, que já teve grandes times e talvez precisasse de uma reformulação, mas garantiu que enquanto tiver a oportunidade de dirigir a seleção brasileira não vai sair.