Por Adilson Barros, Julyana Travaglia e Thiago Fernandes
Direto de Salvador, BA
Se você veste preto e branco e gosta de futebol arte, pode entrar: a festa está só começando. Se por acaso o barrarem na porta, avise que é amigo de Ganso, Neymar, Robinho e cia. Com certeza vão liberá-lo. Em um ano que vimos uma Seleção Brasileira sem cara de Brasil, o Santos desses garotos mostrou que é possível acreditar em renovação. Na noite desta quarta-feira, o Peixe confirmou essa tendência com o incontestável título da Copa do Brasil. Inédito para o clube, que garante participação na Libertadores de 2011.
Edu Dracena, apontando o céu, comemora com André e Neymar (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)A taça foi levantada com uma derrota por 2 a 1 no Barradão, em Salvador. Mas o começo da glória foi construído na Vila Belmiro, na semana passada, quando o Santos fez 2 a 0. Vale lembrar que, antes da Copa do Mundo, o mesmo Peixe levou também o Campeonato Paulista, dando show atrás de show e perdendo na grande final por 3 a 2 para o Santo André. Mas nada que tirasse o brilho da conquista.
O Vitória, embora vice-campeão, também tem seus méritos nesse renascimento do futebol arte. Até porque também joga para frente, sem se esconder atrás da linha do meio-campo. Não à toa terminou o torneio com um ataque bastante positivo (foram 25 gols). E se serve como alento, o time baiano tem mais uma chance de pegar vaga na Libertadores. Afinal, disputa neste segundo semestre a Copa Sul-Americana. Encara o Palmeiras. O Santos, por sua vez, joga contra o Avaí.
A estreia do Leão na competição internacional será quarta-feira, no Barradão. O Peixe, por outro lado, receberá o time catarinense quinta-feira, na Vila Belmiro. Até lá, porém, o clube vai comemorar esse inédito título, que agora faz companhia a outras importantes conquistas, como as cinco Taças Brasil, o Robertão, os dois Brasileiros, as duas Libertadores, os dois Mundiais, os 18 paulistas, a Conmebol e os cinco Torneios Rio-São Paulo.
Técnica supera raça
Três atacantes de um lado. Três atacantes do outro. Essa combinação só poderia resultar em mais chances de gol. E assim foi. A iniciativa, é verdade, coube ao Vitória. Também não poderia ser diferente, já que no primeiro jogo, na Vila Belmiro, o Santos fez 2 a 0, com gols de Neymar e Marquinhos.
Mais acostumado com o gramado do Barradão, ainda mais castigado por causa das chuvas, o time baiano chegou forte com Egídio pela esquerda e Ramón pela meia. Esse último, aliás, quase surpreendeu o goleiro Rafael em cobrança de falta aos cinco minutos. Logo depois, aos oito, foi a vez de Júnior cabecear rente à trave.
A intensidade do jogo do Vitória de certa forma assustou os santistas. Notava-se isso no desespero para tirar a bola da defesa e nos seguidos erros de passe. Mas quando o Peixe acerta esse fundamento, é sempre perigoso. O Leão sabe disso. Aos poucos, então, o clube paulista começou a aparecer mais no ataque.
Mas a primeira boa chance surgiu apenas aos 29 minutos. Ganso deu belo lançamento para Robinho. O atacante dominou no peito, cortou e chutou cruzado. Um minuto depois, novo passe de Ganso para Robinho, e a zaga rubro-negra tirou. O Vitória, aliás, marcou aos 32, mas Schwenck estava impedido no cabeceio.
Melhor para o Santos, que conseguiu com técnica superar a raça dos baianos e abrir o marcador. Ou melhor, começar a comemorar o título. Aos 44 minutos, após cruzamento certeiro de Neymar do lado esquerdo, o zagueiro Edu Dracena subiu sozinho para cabecear e estufar a rede do gol defendido por Viáfara.
o gol marcado por Dracena, que depois de conquistar a Tríplice Coroa com o Cruzeiro terá a chance de repeti-la com o Santos, o Vitória precisaria fazer quatro gols para ser campeão. Situação bastante complicada. Até mesmo para um time que costuma ser osso duro de roer como mandante.
Como era de esperar, o Vitória voltou para o segundo tempo abatido. Afinal, não é tão fácil assim fazer quatro gols no Peixe. Ainda mais numa final. A torcida era o reflexo do time em campo. Ou vice- versa. Mas Wallace, aquele que escreveu uma carta aberta aos rubro-negros pedindo apoio, deu um fio de esperança ao Leão.
Aos 12 minutos, depois de passe de Ramón, o zagueiro matou com muita qualidade e bateu de perna direita, sem chance para o goleiro Rafael: 1 a 1. Aos 17 minutos, uma despedida. Dorival Júnior colocou Marquinhos na vaga de André, que deu adeus ao Peixe - o atacante está acertado com o ucraniano Dínamo de Kiev.
Esperançoso, o Vitória seguiu no ataque, tentando de fora da área, pelos lados, pelo meio, por cima... Mas chance clara mesmo foi o Santos que criou. Aos 21, Ganso recebeu passe em profundidade de Marquinhos e só parou no goleiro Viáfara. Mas o Leão mantinha as esperanças. E Renato acertou a trave aos 25.
Porém, foi Júnior o responsável por recuperar o sentimento esperançoso no time baiano. Aos 32, após lindo passe de Neto Coruja, o atacante virou o placar. Mas ainda restavam dois gols. Só que faltava tempo também. O Vitória foi guerreiro, mas não conseguiu tirar do Santos um título incontestável.
VITÓRIA 2X1 SANTOS Viáfara, Nino (Gabriel), Wallace, Anderson Martins e Egídio; Neto Coruja, Bida (Adaílton) e Ramon (Renato); Elkeson, Júnior e Schwenck. Rafael, Pará, Edu Dracena, Durval e Alex Sandro; Arouca, Wesley e Paulo Henrique Ganso; Neymar (Marcel), André (Marquinhos) e Robinho (Rodriguinho).
Técnico: Ricardo Silva. Técnico: Dorival Júnior.
Gols: Edu Dracena, aos 44 minutos do primeiro tempo; Wallace, aos 12, Júnior, aos 32 minutos do segundo tempo.
Cartões amarelos: Anderson, Wallace, Elkeson (VIT); Edu Dracena, Robinho, Rafael (SAN)
Público: 34.111 pagantes. Renda: R$ 1.522.000
Data: 04de agosto. Estádio: Barradão, em Salvador (BA). Árbitro: Carlos Eugênio Simon (Fifa/RS). Auxiliares: Altemir Hausmann e Érico Bandeira.